Iniciei diálise em fevereiro de 2002, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide.
É minha convicção que a falência dos meus rins se ficou a dever à minha estada em África, em Angola, em 1968 e 1969, no cumprimento do serviço militar obrigatório.
Desde o meu regresso, em janeiro de 1970, de quando em quando, tinha grandes febrões numa periodicidade quase semestral, a que se seguiam descargas de urina pastosa de uma cor castanho escuro. Efetuei repetidas análises, que nunca determinaram a causa destas crises. Apenas havia uma certeza, de que começaram após a minha estada em Angola, e que eram em tudo semelhantes a um pequeno episódio de paludismo que tive na Comissão Militar.
Nos meus contactos com a classe médica que me foi assistindo, referia sempre a minha estada em África e perguntavam-me se não seriam consequências do vírus da malária (paludismo), trazido de África. Nunca obtive essa confirmação de forma inequívoca, embora a frase mais ouvida fosse: “É bem possível”.
Depois de alguns problemas relacionados com um princípio de edema pulmonar, e tensão arterial alta, fui inicialmente seguido no Instituto do Coração, mas havendo já sinais de insuficiência renal, transitei para uma Médica Nefrologista. A situação agravou-se e, como já referido, iniciei diálise em fevereiro de 2002 no Hospital de Santa Cruz e, posteriormente, no Hospital da CUF Infante Santo, onde me mantive até ser chamado para transplante renal em julho de 2003, no Hospital de Santa Cruz, situação em que hoje me encontro.
A todas as equipas médicas que me têm assistido e seguido, devo a melhoria da qualidade de vida de que até hoje tenho desfrutado, a que procuro corresponder com uma grande disciplina, a todos os níveis.
Para finalizar, deixo uma pequena história passada durante o período em diálise:
À altura da diálise, tinha uma vida muito ativa, representando algumas empresas multinacionais ligadas aos Têxteis Técnicos, na vertente de Não-Tecidos. Tinha ainda à minha responsabilidade, por conta de uma empresa espanhola, o mercado inglês, onde tinha que me deslocar 3 a 4 vezes ao ano e durante 1 semana.
Mesmo em diálise, nunca deixei de realizar as visitas de trabalho. Marcava primeiro as diálises, em regra às terças-feiras em Glasgow (Escócia), às quintas-feiras em Manchester, no Hospital Central, e aos sábados em Londres. Marcava depois as visitas aos clientes e os hotéis nas proximidades. O percurso era efetuado numa viatura alugada.
A diálise em Glasgow (Hospital Central), tinha uma característica interessante. Mercê do dinamismo de uma das senhoras dialisadas, e com uma ou outra exceção mais grave, todo o grupo fazia a diálise a cantar em coro, trechos variados, dos mais conhecidos do repertório popular. Sempre gostei de música, toco um instrumento musical (viola baixo de fado) e ainda canto num Coro Gospel. Alinhei também nesse coro dos dialisados, e confesso que foi uma ajuda e uma agradável experiência e inesquecível. Ainda lá regressei creio que três vezes e, aparte a diálise, era um prazer.
A 4 de julho de 2003 fui transplantado em Santa Cruz, e felizmente tem corrido bem.
Continuo com vida ativa, ligado à mesma atividade profissional. Costumo dizer que gostaria de assim continuar até à véspera do meu funeral…