O meu nome é Carlos Oliveira, tenho 43 anos e resido em Torres Novas. A minha insuficiência renal foi descoberta em junho de 1988 numa ecografia de rotina. Tinha eu 14 anos, praticava atletismo e era um adolescente muito ativo. Foi partir daqui que a minha vida começou a ser um pouco diferente da dos meus colegas, tinham detetado uma malformação bilateral dos ureteres, causando uma hidronefrose bilateral. Na tentativa de recuperar os meus rins, começaram as consultas, os exames, as análises e, após muitas tentativas de tratamentos e cirurgias (reimplantação bilateral dos ureteres e ressecção transureteral do colo vesical), os meus rins não recuperaram e estavam mesmo a deixar de funcionar. Todas estas situações viriam a modificar o meu dia a dia e a minha vivência num modo geral. Apesar de tudo isto, e dentro do possível, consegui continuar a minha vida, estudava e estava com os amigos, conseguindo ainda assim continuar os estudos até ao 12.º ano.
Foi em agosto de 1993, com 19 anos, já como jovem adulto, que a minha vida iria mudar mais um pouco e, sem perceber muito bem o que estava para acontecer, tinha mesmo que iniciar a hemodiálise. Esta fase exigiu alguma adaptação, uma vez que tinha que fazer o tratamento 3 vezes por semana durante 4 horas. Ao final de 6 meses em programa regular de hemodiálise, e com a situação já mais estável, consegui encontrar o meu primeiro trabalho, pois nunca fui de me “render” à minha doença. Sempre ativo e a trabalhar, passados seis anos, em fevereiro de 1999, surgiu um transplante que poderia ser a solução para a dependência da máquina de hemodiálise. Infelizmente, passado uma semana viria a sofrer uma rejeição hiperaguda com trombose venosa, o que fez que continuasse em programa de hemodiálise.
Surgiu um novo transplante em março de 2008, também este sem sucesso por necrose extensa medular cortical, pelo que continuei em hemodiálise. De referir que as tecnologias e a qualidade da hemodiálise melhoraram bastante nos últimos anos e, em 2009, fui convidado a experimentar a hemodiálise longa noturna, que se faz em sete horas durante a noite na clínica. Esta modalidade tem-se comprovado muito mais eficaz devido a ser durante mais tempo e as análises melhoraram consideravelmente e, consequentemente, a minha qualidade de vida também melhorou, não só pelas análises, mas também pela minha disponibilidade de tempo diário, uma vez que faço a hemodiálise durante a noite.
Ao dia de hoje, e de forma consecutiva durante 24 anos sempre a fazer hemodiálise, com 2 transplantes sem sucesso, construção de 3 fístulas arteriovenosas e vários cateteres para fazer hemodiálise, vários problemas associados devido a tanto tempo de hemodiálise (cirurgia de paratiroidectomia, rutura bilateral dos quadríceps, hidradenite, amputação da falange do terceiro dedo da mão direita e segundo da mão esquerda por roubo vascular e isquemia, paralisia facial direita), nunca poderei dizer que é fácil, mas todos nós conseguimos uma força extra quando precisamos.
Posso concluir que, com o nosso querer, o ser positivo, apesar de que por vezes parece que está tudo a correr mal, é sempre uma ajuda para nós, mesmo que as coisas não corram como queríamos, continuemos a lutar sempre e a tentar ser felizes à nossa maneira.
Em nota final, dizer que, apesar da minha condição (IRC em programa de hemodiálise), nunca desisti e quando este testemunho for publicado estarei a passar um dos momentos mais felizes da minha vida, ser Pai! Aproveito também para agradecer à minha companheira, Teresa Lopes, que me acompanha há muitos anos e sempre me apoiou nas minhas dificuldades. Sejam felizes!!