Aos 29 anos de idade foi-me diagnosticado uma insuficiência renal. Na altura não fiquei preocupado, porque sentia-me bem e não me doía nada. Perguntei ao médico se poderia viver assim muito tempo ele respondeu que os meus rins eram como os jogadores de futebol com chuteiras sem pinos. E era verdade, ao fim de alguns anos, em 1985, comecei a fazer hemodiálise.
Depois de um coma profundo, e com muita insistência do médico de serviço na urgência do hospital, acordei do coma com a dura realidade de um tratamento muito doloroso e com pouca expectativa de sobrevivência. Era uma realidade muito difícil para um jovem de 41 anos na altura, e com duas filhas menores. Foram 6 anos de grande sofrimento e desespero, querer matar a sede e não poder beber uma simples água. Era revoltante. Na altura o tratamento era muito rigoroso e uma simples oscilação do peso corporal era o suficiente para alterar o tratamento e o tornar mais doloroso ainda.
Mas com grande apoio de todos, em especial o dos colegas da mesma luta, encontra-se forças para sobreviver. Finalmente o dia mais desejado por todos nós, o do telefonema que chama para o tão desejado transplante e me tiraria do tratamento tão doloroso, chegou.
No dia 24 de outubro de 1991 fui transplantado nos HUC de Coimbra, juntamente com a D. Idália dos Santos Paiva, a quem eu chamo minha “irmã de rim”. Hoje, passados 25 anos, podemos estar orgulhosos de sermos uns doentes com a creatinina a 0,80 ou 0,90, o que traduz um bom funcionamento renal. No dia 29 de outubro, eu e a minha irmã de rim, juntamente com os filhos e netos, de ambos, resolvemos ir a Fátima agradecer à Nossa Senhora de Fátima a graça de nos ter concedido esta longevidade, e agradecer também aos médicos e enfermeiros dos HUC por toda a disponibilidade e apoio que ainda hoje nos dispensam.
Sem eles nada disto teria sido possível!