Como alguns sabem, também padeço de Insuficiência Renal Crónica – IRC, tendo-me sido diagnosticada, por biopsia renal, há 14 longos anos, em 2001. Nessa data, tive os primeiros sintomas e alarmes de que algo não estava a correr bem com a minha “máquina” e, após alguns exames, foi-me dito o que nunca quereria ter ouvido, estava infetado e doente para o resto da minha vida. Desde aquele dia, a minha vida traduzia-se numa luta diária contra a doença, que me apareceu sem eu pedir…
Como acontece à maioria das pessoas, ao sofrimento e à tristeza, juntou -se a raiva e a revolta com a situação “Porquê a mim?! Era injusto!” Tive que mudar completamente o meu estilo de vida no que diz respeito à alimentação, aos cuidados diários de medicação, ao desporto… Enfim, esperavam-me “dias negros!”.
Assim, com o decorrer do tempo, fui-me mentalizando de que a vida continuava, mesmo sabendo das variadíssimas limitações físicas e nunca perdendo o equilíbrio emocional e a persistência de lutar dia após dia.
Sendo eu um praticante de desporto, desde os meus tenros 9 anos de idade, era muito difícil superar a falta da prática do mesmo. A verdade é que, mesmo após a descoberta desta insuficiência renal, nunca me considerei limitado, nem pensei sequer em desistir, apesar de ter sofrido bastante até chegar aos dias de hoje.
O meu interesse e dedicação pela corrida, levou-me a participar em provas de trail running, que efetuei em prol da APIR com o lema, “Uma corrida pela APIR”. Fi-lo por mim, por um familiar direto, que também é IRC e por todos vós que padeceis da mesma doença.
Neste ano, quis juntar o útil ao agradável e, sentindo-me bem, quis transmitir-vos que os nossos limites são superados. Basta querer! Por isso, aventurei-me numa prova de longa distância, considerada a mais dura no nosso país, onde me desafiei e propus fazer o máximo de quilómetros, em troca de 1€ a entregar à APIR, com o objetivo de me superar e dedicar a minha singela contribuição à referida instituição, que tanto se esforça para nos dar e partilhar todo o seu conhecimento desta nossa causa.
Lembro-me de, nesta mesma prova de 112km, galgar imensos quilómetros, dobrar várias serras e, por cada quilómetro percorrido, sorrir livremente e pensar em todos vós, bem como no que já tinha passado para ali poder estar e de que todo o esforço despendido não tinha sido em vão, pois a gratificação interior era enorme, ao fazer aquilo que sempre gostei de fazer e poder contribuir, ao mesmo tempo, com um singelo donativo. A prova foi terminada com sensação de dever cumprido e com a certeza de que deixei um sorriso num colega Insuficiente Renal.
Caros leitores e companheiros de adversidade, exorto-vos a fazerem como eu, encarar o futuro com esperança e determinação, não abdicando daquilo que realmente vos faça felizes, fazendo de cada dia, de cada hora, de cada minuto uma batalha na qual só nos podemos ser os únicos vencedores!
Hoje, escrevo estas palavras para que sirvam a todos (IRC e a qualquer cidadão) de esperança, para que jamais desistam de lutar pelos vossos sonhos, pela vossa vida, pois o caminho faz-se caminhando! E, como diz Charles Chaplin, “A persistência é o caminho do êxito.”