Olá, o meu nome é Tiago Leitão, sou de Leiria e tenho 18 anos.
Vou falar um pouco sobre a minha experiência com a insuficiência renal crónica…
Bem, o melhor é mesmo começar bem do início… Mais ou menos em 2002, passava eu umas normais férias de verão em casa dos meus avós e dos meus tios, quando o mais improvável aconteceu: eu urinei na cama!!! Super envergonhado, contei à minha tia o que aconteceu e ela não se preocupou muito com isso “pois eu era criança e isso podia acontecer”… Mas não foi só uma vez, nem duas, nem três, mas sim uma semana seguida. Isso já não era muito aceitável na minha idade!
Foi aí que tudo começou… Fui ao médico e ele disse: “É super normal para uma criança que está prestes a entrar no 1º ano da escola, é da ansiedade não se preocupe.” Mas felizmente a minha tia reparou que apareceu outro sintoma: o inchaço nos olhos, na barriga, nas pernas, ou seja, no corpo. Assim, voltámos de novo ao hospital, mas desta vez a um mais moderno (Hospital de Santa Luzia, Viana do Castelo) e daí fui logo encaminhado para o Hospital de Leiria, onde, durante uns tempos se pensou que eu não tinha nada e que estava tudo bem comigo… Até que um dia uma enfermeira desse mesmo hospital fez um teste à minha urina. Percebeu-se rapidamente pela expressão facial da enfermeira que eu tinha algo de errado e rapidamente transferiram-me para o Hospital Pediátrico de Coimbra, onde fui sempre muito bem tratado e nada falhou, até na rapidez com que descobriram que eu tinha insuficiência renal.
Já tinha eu 6 anos quando a medicação começou: o horrível Lepicortinolo, a rotina diária de manhã, almoço e jantar a tomar comprimidos… E quem metia isso na cabeça de uma criança com 6 anos?! Ninguém! Bem que os meus pais tentavam tudo, inclusivamente colocar os comprimidos juntos com a comida para eu não reparar… Mas depois eu fui crescendo e não podia ser assim para sempre, tinha de começar a tomar os comprimidos por vontade própria, pois começava a ser mais e cada vez mais medicação e as coisas não melhoravam. “E porquê?” perguntam vocês, “Porque que não melhorava?!” Pois é, eu não tomava a medicação…
Tudo ia piorando, como é óbvio. A minha creatinina ia piorando mês após mês, até que cheguei aos 15 anos e começaram a preparar-me mentalmente para a hemodiálise, mas o que eu pensava sempre era que aquilo não me ia atingir, mesmo continuando a tomar mal a medicação. Até que chegou a outubro de 2014 e o que eu pensava que nunca ia chegar, chegou… E começou uma nova fase da minha vida, a hemodiálise 3 vezes por semana, no Hospital Pediátrico de Coimbra. Sim, eu ia para Coimbra e voltava para Leiria num só dia, 3 vezes por semana, porque não há nenhum posto de hemodiálise pediátrica em Leiria. E foi lá que conheci algumas das pessoas mais marcantes da minha vida: a enfermeira Rute, o enfermeiro Luís e a Inês (uma rapariga que fazia hemodiálise comigo) e, claro, foi lá também que conheci a APIR, que me ajudou numa fase em que estava mesmo a desistir.
Num fim de semana desse mesmo outubro havia um convívio de jovens com insuficiência renal. Convidaram-me e a minha resposta mentalmente foi “Não, eu não vou àquela coisa!” mas a minha mãe insistiu que eu fosse. E foi um fim de semana daqueles!! Só posso agradecer a toda a gente da APIR: aquele fim de semana mudou a minha visão “até ao fim do mundo”!
Já em janeiro, no dia 3, pelas 2 da manhã, ligaram um monte de vezes à minha mãe e à minha irmã, até que alguém ouviu o telefone e o que era? Sim! Tinha 1 hora para estar no Hospital Universitário de Coimbra para fazer um transplante renal. Nem tive tempo para ficar nervoso… Foi tudo tão rápido!!! Às 8:30h da manhã já estava a entrar na sala de operações e correu tudo bem, 5 estrelas. Já no dia 13 de janeiro, saí do hospital super pronto para ir para casa e começar uma nova vida, uma oportunidade a não desperdiçar!
Nos dias de hoje, passados cerca de 10 meses, fiz os meus 18 anos e a melhor prenda foi o convite da APIR para ser monitor do grupo de jovens no CRESCE! Como eu sou um sortudo, penso agora: só estive 3 meses em tratamento, tive um transplante bem sucedido e agora levo uma vida normal. O que pode um jovem de 18 anos pedir mais?!