À medida que a doença renal avança, os rins podem deixar de ser capazes de desempenhar a sua função. O transplante é uma opção de tratamento para a insuficiência renal, mas não é uma cura. À partida, o transplante renal proporciona uma vida potencialmente mais longa e mais saudável, livre da diálise e das restrições alimentares, mas o seu novo rim traz consigo um conjunto de cuidados a ter em conta durante toda a vida.
Os transplantes renais podem provir de dador vivo ou falecido. A pessoa que recebe o rim é o recetor, e a que doa o rim é o dador. Os dadores vivos podem ser familiares, cônjuges ou companheiros ou, mesmo, amigos próximos. Os dadores falecidos são pessoas que, em vida, não se manifestaram contra a doação dos seus órgãos após a morte.
Para fazer um transplante renal, terá que estar clinicamente apto e estável, se estiver já em diálise. Se o transplante for de dador vivo, por vezes consegue-se realizar a cirurgia antes de ser necessário iniciar diálise.
Infelizmente, nem todas as pessoas podem fazer um transplante renal. Se tiver outros problemas de saúde importantes, talvez a diálise seja uma melhor opção de tratamento. Os seguintes fatores poderão afetar a possibilidade de vir a ser transplantado.
Os transplantes renais são geralmente bem-sucedidos. Segundo as estatísticas, 95% dos transplantes funcionam ao fim de um ano e 81% ao fim de cinco anos. O tempo médio de espera por um rim de dador falecido é de cerca de 3,5 anos.
Para estar em condições de fazer um transplante e para ter uma boa recuperação é importante que se mantenha em forma e o mais saudável possível. Faça exames médicos e dentários regularmente e não se esqueça de:
No caso das mulheres, é aconselhável que faça mensalmente a autopalpação da mama, bem como uma mamografia e um teste de Papanicolau (citologia do colo do útero) a cada dois anos. Nos homens, recomenda-se um exame anual à próstata.
É importante que não fume, pois o tabaco danifica os vasos sanguíneos do rim e do resto do organismo. Fumar aumenta o risco de ataque cardíaco, trombose cerebral ou problemas pulmonares depois da cirurgia.
A cirurgia de transplante e a medicação utilizada para evitar a rejeição são muito exigentes para o organismo e podem causar problemas se não se encontrar minimamente bem. Os exames que se fazem previamente a um transplante e que servem para avaliar o seu estado de saúde geral incluem:
Quando surge um rim de dador falecido, escolhe-se o recetor com maior compatibilidade de sangue e tecidos. Existem outros fatores a ter em conta, como, por exemplo, o tempo em lista de espera.
Em termos gerais, apenas se pode receber um transplante renal de um dador que seria compatível para uma transfusão de sangue. No caso do transplante de dador falecido, o dador e o recetor devem ter um tipo de sangue compatível para que o transplante correr bem. Pode consultar a compatibilidade entre os tipos de sangue ABO na tabela que se segue:
Tipo de sangue |
Pode receber de um dador |
O |
O |
A |
O, A |
B |
O, B |
AB |
O, A, B, AB |
No caso do transplante de dador vivo, as opções são menos restritas e, por vezes, é possível fazer um tratamento prévio no recetor, que consiste em remover anticorpos, e que permite fazer um transplante que, à partida, seria “incompatível”.
Se esta opção não for viável, é possível entrar no Programa Nacional de Doação Renal Cruzada. Este programa utiliza um sistema informático que avalia os pares dador/recetor previamente registados e procura combinações em que o dador de um par incompatível possa doar o seu rim ao recetor de outro par incompatível. Se o sistema encontrar uma combinação possível, podem acontecer dois ou mais transplantes em simultâneo, através da troca de rins entre os vários pares participantes. Fale com o seu nefrologista para saber se esta é uma opção viável para o seu caso.
Mesmo que o tipo de sangue seja compatível, outros testes de compatibilidade têm de produzir resultados “negativos”. Isto significa que os anticorpos do recetor têm menos probabilidade de atacar o rim do dador. Se já fez um transplante ou transfusões de sangue no passado, é mais provável que tenha desenvolvido esse tipo de anticorpos. Os anticorpos aumentam a probabilidade de obter um “crossmatch positivo”, reduzindo a probabilidade de encontrar um rim compatível. Um “crossmatch positivo” também significa que o rim transplantado poderá vir a ser rejeitado.
O hospital entrará em contacto consigo se surgir um rim compatível. Verifique que o hospital tem os seus contactos atualizados, bem como contactos alternativos com pessoas lhe são próximas. Se o hospital não conseguir falar rapidamente consigo, esse rim poderá ser transplantado em outra pessoa.
Antes da cirurgia, é colocada uma agulha ou cateter para acesso intravenoso, a fim de lhe fornecer medicação e líquidos. Durante a cirurgia, o novo rim é implantado. Geralmente, os rins nativos doentes não são retirados. Contudo, se tiver rins poliquísticos de grandes dimensões, poderá ser necessário remover um deles, para criar espaço para o rim transplantado, mas este procedimento costuma ser feito antes da cirurgia de transplante.
A cirurgia demora entre 2 a 3 horas, com 1 a 2 horas no recobro. É feita uma incisão na parte inferior do abdómen, do lado direito ou esquerdo.
A artéria e a veia renal do novo rim são conectadas com a principal artéria e veia existentes nas imediações da bexiga. O ureter do novo rim é ligado à bexiga, para permitir o fluxo da urina.
É colocado um tubo ou cateter temporário na bexiga (algália), durante cerca de 5 dias, para drenar a urina para um saco. Este tubo sai da uretra, o ponto de saída normal da urina. Este procedimento permite avaliar o funcionamento do rim. Poderão ser colocados 1 ou 2 tubos na incisão para drenar qualquer líquido que aí se acumule, os quais são habitualmente removidos ao fim de 1 a 4 dias.
Depois da cirurgia poderá sentir-se algo atordoado, desconfortável e necessitar de receber oxigénio através de uma máscara. Terá um penso a cobrir o local da cirurgia. O acesso intravenoso continuará colocado no lugar, para lhe fornecer líquidos até que seja capaz de comer. Ser-lhe-á dada medicação para controlar as dores.
Em princípio, terá o acompanhamento de um fisioterapeuta, que o ajudará com exercícios para tossir e respirar, e para movimentar os membros inferiores, com o intuito de minimizar os riscos de uma infeção pulmonar e de uma trombose de uma veia nas coxas ou pernas. Inicialmente, poder-se-á sentir desconfortável, mas essa situação é considerada “normal”.
Algumas pessoas começam imediatamente a emitir urina proveniente do rim transplantado, mas outras podem necessitar de diálise durante um curto período de tempo, até que o novo rim comece a funcionar adequadamente. Esta ocorrência não significa que o rim não irá funcionar, mas apenas que necessita de algum tempo para recuperar. Fará análises ao sangue diariamente, para avaliar a função do novo rim e detetar sinais de rejeição.
A estadia no hospital pode variar, mas geralmente prolonga-se por 3 a 10 dias. O tempo de estadia depende do seu estado de saúde geral, da resposta ao novo rim e de alguma complicação que possa surgir. Antes de ter alta, será marcada uma consulta com o cirurgião e consultas regulares com o nefrologista, para avaliar a sua recuperação.
Quando voltar para casa, terá que ter alguns cuidados. É importante que não faça esforços e não levante pesos durante as primeiras 6 a 8 semanas. Poderá sentir-se cansado e precisar de dormir mais – é importante que se mantenha atento ao seu próprio organismo e não se apresse a praticar atividades com as quais não se sente confortável. Ainda assim, é importante que retome a sua atividade física de forma gradual, para garantir um bom estado de saúde geral e bem-estar.
Mantenha-se atento à sua higiene e verifique se o local da cicatriz tem algum corrimento, vermelhidão ou dor. Se notar algum destes sinais ou se tiver febre, contacte o seu médico. Poderá ter um corrimento ligeiro da cicatriz durante os primeiros dias. Antes de ir para casa, o enfermeiro ensiná-lo-á a tratar da cicatriz.
Depois do transplante, terá que tomar medicamentos imunossupressores para o resto da vida, para evitar a rejeição.
Durante os primeiros três meses depois do transplante, o novo rim encontra-se mais instável e com maior risco de rejeição. Terá consultas regulares para avaliar a função do rim transplantado. De início estas consultas poderão ser até diárias mas, depois, passarão a ser semanais e, mais tarde, mensais ou com ainda menor periodicidade. É importante que comunique imediatamente à equipa clínica quaisquer alterações relativas à sua saúde.
Uma vez que o seu organismo considera o rim transplantado como um “estranho”, terá que tomar medicação para evitar a rejeição enquanto ele estiver a funcionar (e, mesmo, depois de deixar de funcionar, mas com dose progressivamente menor até que seja sensato suspendê-la). Estes medicamentos desativam uma parte do sistema imunitário, evitando que este ataque o rim transplantado.
Nos primeiros meses após o transplante, poderá ter alguns episódios de rejeição aguda, os quais são geralmente controlados através do aumento da dose da medicação ou da utilização de medicamentos adicionais. A grande maioria dos episódios de rejeição são reversíveis.
Outra situação, designada por rejeição crónica, geralmente começa um ou mais anos após o transplante; é um processo muito lento e mais difícil de tratar.
Depois do transplante renal, é necessário tomar medicamentos imunossupressores para o resto da vida. A combinação desses medicamentos é cuidadosamente escolhida para garantir o maior grau de sucesso possível para o seu transplante. Cada medicamento tem vantagens, mas também comporta riscos.
Poderá ter efeitos secundários dessa medicação. Muitos são passageiros e dependem da dose, incluindo:
Outros efeitos secundários são mais graves, tais como:
É importante falar com o seu médico ou farmacêutico em relação aos seguintes aspetos da medicação:
Se estiver preocupado com os efeitos secundários, deverá discuti-los com o seu médico ou farmacêutico.
Não deixe de tomar a medicação, a não ser por recomendação médica.
Se precisar de algum tratamento de outro profissional de saúde, tal como um dentista, informe-o de que é um doente transplantado. Fale com o seu médico antes de tomar qualquer outra medicação, incluindo medicamentos de venda livre, para ter a certeza que não afetarão o seu transplante.
A maioria das pessoas sente-se melhor depois de um transplante. No entanto, não deixa de ser um acontecimento importante, que poderá causar uma variedade de emoções antes ou depois da operação. Poderá ter alterações de humor, sentir-se nervoso ou deprimido, à medida que procura ajustar-se à melhoria do seu estado de saúde e à medida que o seu corpo reage à medicação imunossupressora.
Existem outras situações com que poderá ter que lidar:
Cada pessoa lida com o transplante de forma diferente. As suas emoções afetam a sua saúde, por isso é importante falar sobre os seus pensamentos e sentimentos com a sua família, amigos e profissionais de saúde.
Texto traduzido e adaptado com permissão da Kidney Health Australia.